segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

VIDEO AMANTES ANTIGOS

TU ÉS A CRUZ QUE EU CARREGO


                                          TU ÉS A CRUZ QUE EU CARREGO






Portugal - Santa Inquisição-1585






O cão do demônio estava morto. Atrevido! Inconseqüente! Comer logo a minha galinha...Pensou Nino falando sozinho. Entra calmamente em casa. Olha a sala como se estivesse procurando algo de importante.. Joga no chão o couro preto do animal. Pega uma garrafa de vinho. Enche o copo até a boca. Bebe tudo. Tira o lenço com a mão ensangüentada e enxuga a saliva. Corta com o punhal um pedaço de pão para comer e beber com vinho.Senta na cadeira de balanço pensando. Depois canta uma canção. Levanta rápido e decidido. Vai até o quarto de casal. Abre a porta. Vê Auxiliadora nua, branquinha, ajoelhada fazendo suas orações. Parecia até uma santa. Em cima do oratório a bíblia dizia:


´´Não servirás a dois senhores´´. Nino entra e senta na poltrona. Fica olhando Auxiliadora ajoelhada nua diante do seu santinho preferido.


Era devota incondicional de são Bento. Ele levanta e vai até o espelho. Enxuga a saliva que estava escorrendo como nunca. Quando tira o lenço e olha para o espelho vê refletida a imagem de Ariadne nua.


Mas era uma visão perdida.Ele olha novamente para o espelho e vê a cabeça de Auxiliadora cheia de cobras. Toma um susto! Aquilo não era o delírio do vinho. Era a sua realidade. Reclama consigo:


-Oh! Este corpo que carrego é tão maldito quanto os meus olhos que só


mostrou a minha alma decaída o que a paixão enganadora quis ver! Maldito olhos da paixão por que cegas à sabedoria?


Olha para Auxiliadora. Ela abaixa o rosto e beija os pés do são Bento.


As cobras da sua cabeça sibilam enrolando no seu santo protetor.. Nino a olha desfigurada no espelho e diz:


-- As mascaras covardes dissimulam... Apenas dissimulam.... Porque um dia revelam a natureza verdadeira dos seus donos. Reza mulher! Reza mesmo...


Auxiliadora acende as duas velas do candelabro. Nino sorri sarcasticamente a olhando pelo espelho.


--Reza comigo mulher, a oração que o teu anjo ensinou.


´´Ó mãe


Cheia de graça


O espectro está agora convosco


Maldita sois vós


Entre todas as mulheres


Maldito é o fruto


Que paristes como meu.


Que não viu a luz


Bendito somos nós


Contra essa pecadora.


Que condenamos


Hoje e sempre na hora da morte...


Na hora da nossa morte...


Nino exclama:


-Mas por que eu não pude dizer amem? Bem necessidade tinha de benção!
Mas o amem ficou-me colado na garganta!
O oratório começa a fazer um barulho estranho. As duas pequenas portas se abrem violentamente. Auxiliadora fica de cócoras. Molha o pão no vinho do padre. Come. Limpa a boca e fala:


- Qual é a dúvida meu preto? Você não é o pai?


O frasco vibra provocando rachaduras sob o olhar diabólico do feto;


--- Como posso negar o que nunca abandonei?Mas isto não torna a mentira uma verdade. Sabe Auxiliadora em todo esse tempo não encontrastes seu verdadeiro lugar. Criaste uma pocilga para viver e morrer. Tiveste varias chances e não aproveitastes. Isto é mal.. Muito mal... E o mal está contigo. Vejamos se tua fé te salvará. Isto também pouco importa. Em qualquer dos casos haverá sempre um punhal. Joga o punhal ensangüentado com a carta em cima da cama para Auxiliadoraler... Ela responde:


--Nobre senhor, vos ofende a vossa altiva coragem, pensando nas coisas com doentia imaginação. Ide, procurai água, apagai esse repugnante testemunho da vossa mão.


Nino olha as mãos sujas de sangue. Auxiliadora fala com raiva para ele;


--Por que tirastes os punhais do lugar de onde estavam? Levai-os e manchai de sangue os camaristas adormecidos. Este crime tem de parecer cometido por eles. Ariadne já esta condenada pelos romanistas?


Nino reponde sério;


- Como as chagas do próximo são motivos de risos e ironia até na hora da morte quando pagam pelos pecados alheios.


Ela olha e fala ironicamente:


-- Ó homem simplório! A filosofia não cai bem general... Na verdade você sempre foi um coronel de merda! Estais perdendo a guerra. Da um sorriso sarcástico, As cobras da sua cabeça sibilam alto..


-O teu jogo tirano acabou! Fizestes uma aliança comigo. Lembra?


--Pobre Auxiliadora, nunca me ajoelhei contigo diante do altar deDeus! A história mulher, é a mestra da morte. Há séculos que lhe manuseio as páginas. Cada dia que passa maiores são as surpresas que ressaltam a minha alma. Você ficou jogando o tempo todo entre o templo e a prisão. Reza! Quem sabe você vai para o céu.
Auxiliadora continua ajoelhada de costas. Vira o rosto para ele com raiva e nojo. As cobras abrem as bocas sibilando mostrando seus dentes cheios de veneno.  Sim, nojo! Quanto tempo agüentou o porco velho fedorento! Quanto tempo teve que se submeter às caricias repulsivas por uma migalha de pão. Sim, não tinha dado a ele um filho. Não cruzou o seu sangue com o dele. O seu filho era o seu aborto: Apophis Reltih!




NINO


-É Auxiliadora, você não me da escolha. Existem leis desde a queda dos anjos que devemos cumprir. Há milênios tentamos encontrar a origem da linhagem sanguínea sagrada. Está é a única razão pela qual sobrevivemos neste fardo temporário das nossas existências. Você quebrou uma de nossas leis. Não deixastes para este mundo o meu herdeiro. Não espere de mim nenhuma tolerância.






AUXILHIADORA


-Fracassastes!Terás que voltar só Deus sabe quando. Só se for à outra encarnação! Tomou o resto do vinho do padre. Passou o braço na boca limpando e disse:


.--Saia da minha casa!


--Como é que é?


Ela foi direta:


-Esta casa é uma pocilga!Um inferno com você! Devias morrer na fogueira! Saia da minha casa, diabo fedorento!


--Reza mulher!


Ela disse entre lágrimas:


--Tu és a cruz que eu carrego! Que cruz pesada!!


O frasco vibra. As rachaduras se rompem. O liquido viscoso branco amarelado escorre. Auxiliadora da um grito de parto e de dor! O vidro se quebra e o homúnculo cai no ventre de Auxiliadora. Se meche com vida. Vira a face procurando os olhos de Nino.


--Apophis Reltih eu te dou a minha vida! Veja Auxiliadora o fruto do nosso amor! ..


--- Prove! Prove! Disse Auxilhiadora com o feto no colo procurando seios.E você e nunca deu um litro de leite a minha criança.


Nino reponde com uma voz estranha e face mefistotélica.


Você ainda não compreendeu a fome da tua vida infeliz? Idiota a PALAVRA do Pai é tudo para a criança! É o leite que proporciona o amor. Só os que mamam da PALAVRA são felizes.Você nunca bebeu da PALAVRA só regurgitaste o leite da mentira.Você é a prova da minha mentira. Eu sou o pai da mentira que você carrega mulher infeliz. Au-xi-lhi-a-doressss você é judia!


O candelabro com as duas velas cai. As cortinas começam a queimar.


Auxiliadora grita;


--Vamos morrer queimados na fogueira!


Coloca o feto na cama desesperada.


--Diabos não morrem no fogo do inferno! Reza... Quem sabe você vai para o céu. Deus é ateu e o diabo é cristão.


--Nino tira a sua espada e da um golpe rápido degolando-a. Sua cabeça cai nos pés de São Bento.


Nino finaliza:


--Infeliz!


Diabos não carregam nenhuma cruz!


Cai tomado pelo fogo do seu inferno!