terça-feira, 12 de outubro de 2010

AS BORBOLETAS VOAM PARA O ENCONTRO DA LUZ

                            AS BORBOLETAS VOAM PARA O ENCONTRO DA LUZ



Foi naquela manhã na aldeia de Santa Ana que apareceu para o público estandarte da Inquisição. Era um momento de pompa. Em pano de damasco, franjado em ouro, haste da mais polida prata e riquíssimos bordados de símbolos. Na haste, as armas de São Domingos de Gusmão, fundador do Tribunal. Na haste podia se ver também de um lado, entre as armas da Igreja Romana e da Coroa Portuguesa, a efígie de São Pedro de Verona, do outro lado às armas do Santo Ofício, no meio, a Cruz, um ramo de oliveira e a espada com o lema: Misericórdia e Justiça.


A gentalha enfurecida com tochas de fogo corre atraz de Ariadna. Passa por um homem no meio da multidão. Ele grita:


-Traidora falsa virgem!


Desfere contra ela cinco chicoteadas. Ela tropeça e cai. Outros atiraram pedras. Uma mulher aparece ao lado de Ariadna e fala:


— Sempre fui tua amiga vá para Jerusalém e procure encontrar a sua rosa.
Ariadna olhou para ela, mas não teve tempo para perguntar por quê?


Um homem com uma tocha de fogo na mão:


- Chame cadela pelo seu Mestre!


Começam a chutá-la nas costas. Um homem aparece no meio da multidão e fala:


-Para trás imundos. De que acusam esta mulher?Quem é aqui como Deus?


Desembainha sua espada  se colocando na frente de Ariadna A gentalha se afasta, ele completa:


-Não é a Lei de Deus que condena essa mulher. É a aliança da tirania dos hipócritas. Mulher levanta e mostra-me tua verdadeira  face!


A multidão recua olhando em silêncio. Ele abaixa carinhosamente até Ariadne e a coloca de pé. Tira um lenço branco de linho. Limpa o sangue da sua face. Quando ela o devolve ficam os traços de seu rosto. Ele pergunta:


— Mulher, o que fizeram com o lado esquerdo do teu rosto?


— Espancaram-me, feriram-me os guardas.Acho que eu o conheço... Quem é você?


--Vós não me reconheceis, pois tem guardado de mim uma imagem que não corresponde a quem EU SOU...


Depois disse:


— A prova da tua inocência será esta rosa branca que te dou.Será o seu presente! A verdadeira PALAVRA!
 Os traidores da PALAVRA não acreditam nas rosas. Gostam do sangue das feridas que provocam seus espinhos.


-Será que voltaremos a nos reencontrar?


- Quando acabares de viver quem EU SOU eu estarei contigo.
 Se lembrares de mim Eu estarei contigo onde você estiver!
Os que amam a verdade sempre se encontram e se abraçam.
Os obstáculos e imprevistos apenas retardam o tempo de uma hora já marcada.


A gentalha incitada por Nino, Nelton e Fredo não parava de gritar;


-Vamos dar a ela o que merece: a fogueira!
Ariadne corre. Tinha conseguido deixar para trás a multidão enfurecida até que, numa encruzilhada, se depara com os soldados a cavalos e armados com lanças que a cercam. Exausta ela cai e se entrega.


.--Prendam a cadela fujona!


Disse o capitão da guarda. Ariadna é amarrada com os braços para trás e arrastada por soldados a cavalo e presa na masmorra. Lá estavam reunidos novamente os mesmo da reunião anterior. O santo inquisidor fala para ela:


--Muitas acusações pesam sobre os seus ombros. Mas quero lembrá-la de que:
Qualquer que olhe para uma mulher ou um homem com intenção impura no coração já adulterou. Está é a Lei criatura. Soldado leve a bruxa daqui.


Ariadne estava nas mãos da Santa Inquisição. Quando acordou era de madrugada. Olhou para o céu de uma noite de luar de 4 de Outubro de 1585. Estava amanhecendo. A estrela da manhã parecia querer beijar a lua .


Pelas grades da janela um raio de luar surge e ilumina o seu corpo nu acorrentado.


Uma borboleta colorida aparece e pousa entre os seios de Ariadna para fazê-la  lembrar: 
As borboletas voam para o encontro da luz!